Valor de pensão para 1 filho: pai desempregado

Quando um relacionamento termina e há um filho envolvido, surge a dúvida prática: qual deve ser o valor de pensão para 1 filho pai desempregado? A regra central no direito de família é simples de dizer e complexa de aplicar: a pensão deve equilibrar a necessidade de quem recebe com a possibilidade de quem paga.

Pensão alimentícia - Direito de família

ENTENDA A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR (O QUE REALMENTE ESTÁ EM JOGO)

O que são "alimentos" no direito de família

"Alimentos" não significam só comida: abrangem moradia, saúde, educação, transporte e tudo que for necessário para o desenvolvimento saudável do filho. Por isso, a obrigação de contribuir com a criação da criança não cessa no desemprego. O Judiciário tende a adaptar o valor ao momento econômico do responsável, mas preservando o mínimo necessário à criança.

Em termos práticos, a análise parte de três perguntas: (1) Quanto custa manter a criança? (2) Quanto o pai consegue pagar hoje, mesmo sem emprego formal? (3) O valor proposto é proporcional e razoável para ambos? A resposta é construída com provas — orçamentos, recibos, extratos e qualquer evidência que mostre realidade e boa-fé.

CRITÉRIO "NECESSIDADE X POSSIBILIDADE" APLICADO AO DESEMPREGO

Como funciona o binômio necessidade/possibilidade

O pilar do cálculo é o binômio necessidade/possibilidade. A necessidade é demonstrada listando as despesas mensais do filho (moradia proporcional, alimentação, escola, uniforme, transporte, saúde, lazer compatível com a idade). Já a possibilidade envolve renda atual (mesmo que informal), patrimônio, despesas básicas do pai e sinais de capacidade de geração de renda (bicos, serviços temporários, oportunidades realistas).

Quando não há salário formal, juízes costumam usar parâmetros de referência para evitar zero absoluto. Dois caminhos práticos aparecem com frequência: (a) fixar um valor fixo com base em uma parcela do salário mínimo; (b) estimar percentual sobre ganhos informais prováveis, com revisões periódicas.

Ponto-chave: desempregado não significa isento

Importante: "Desempregado" não é sinônimo de "impossibilitado de contribuir". A contribuição pode ser menor e temporária, mas tende a existir. Sempre que a situação melhorar, cabe revisão para cima; se piorar, revisão para baixo.

PERCENTUAIS USUAIS E EXEMPLOS PRÁTICOS DE CÁLCULO

Padrões de decisão

Não existe tabela oficial única, mas há padrões de decisão que ajudam a orientar acordos e pedidos ao juiz. Em emprego formal, para um filho, é comum ver percentuais na casa de 15% a 20% da renda líquida do pai, ajustando-se conforme necessidades específicas (saúde/educação). No desemprego, como não há base salarial, muitas decisões preferem um valor fixo mensal atrelado a referência pública (por exemplo, fração do salário mínimo).

Exemplos ilustrativos para 1 filho

  • Base no salário mínimo: Se o salário mínimo for R$ 1.500, um parâmetro usado em alguns casos é fixar de 20% a 30% desse valor enquanto perdurar o desemprego. Ex.: 25% = R$ 375 mensais. Ajustes são possíveis conforme necessidades do filho (ex.: remédios, escola) e possibilidades reais do pai.
  • Renda informal estimada: Se o pai faz bicos e afirma ganhar ~R$ 800/mês, o juiz pode fixar 20% sobre essa referência (≈ R$ 160) ou um valor fixo que caiba no orçamento (ex.: R$ 200), com revisão trimestral.
  • Recolocação parcial: Se surge um trabalho temporário de R$ 1.600 líquidos, 20% daria R$ 320. O acordo pode prever gatilho de reajuste automático quando houver holerite comprovado, evitando nova ação imediata.

Boas práticas para acordos

  • Combinar data de revisão (por exemplo, a cada 90 dias)
  • Prever comprovação de busca ativa por emprego
  • Incluir cláusula de comunicação imediata quando surgir renda formal, para recalcular sem litígio

COMO PEDIR PENSÃO: VIA ACORDO OU VIA JUSTIÇA

Acordo extrajudicial

Você tem dois caminhos complementares: acordo e/ou ação judicial. O acordo pode ser feito por escrito e levado a cartório para reconhecimento, ou diretamente homologado em juízo. A vantagem é a rapidez; a desvantagem é que precisa de cooperação do outro lado.

Passo a passo básico

  1. Liste as despesas do filho com valores atualizados (guarde notas, recibos, extratos).
  2. Descreva a situação do pai (desemprego, bicos, gastos fixos), anexando provas quando possível.
  3. Proponha um valor objetivo (fixo ou percentual) e, se for o caso, uma regra de revisão (ex.: a cada 3 ou 6 meses).
  4. Se não houver acordo, protocole a ação e peça alimentos provisórios — um valor inicial enquanto o processo tramita.

Dica estratégica: leve números realistas. Pedidos exagerados tendem a ser reduzidos; valores muito baixos podem ser majorados. O juiz valoriza planilha clara, comprovantes e proposta proporcional.

DOCUMENTOS QUE FORTALECEM O PEDIDO (OU A DEFESA)

Para quem pede (em geral, a mãe)

  • Orçamento do filho: lista mensal (aluguel proporcional, água, luz, alimentação, material escolar, transporte, saúde, lazer). Sempre que possível, anexe comprovantes.
  • Rotina escolar e de saúde: mensalidades, boletos, receitas e laudos se houver tratamentos constantes.
  • Capacidade do pai: prints de anúncios de serviços que ele oferece, comprovantes de bicos, histórico recente de trabalho, patrimônio relevante conhecido.

Para quem paga (o pai)

  • Comprovação do desemprego e da busca por trabalho (cadastros, entrevistas, currículos enviados).
  • Despesas pessoais essenciais (moradia, alimentação, transporte), demonstrando que um valor muito alto o inviabilizaria.
  • Proposta de valor possível + plano de revisão assim que houver recolocação.

Quanto mais transparente for cada lado, mais fácil chegar a um valor equilibrado — por acordo ou por decisão judicial.

REVISÃO, EXONERAÇÃO E "GATILHOS" DE AJUSTE

Quando e como revisar

Como a pensão reflete a realidade do momento, ela é dinâmica. Mudou a renda? Surgiu emprego? Aumentaram os gastos do filho? Cabe revisão. Em geral:

  • Revisão para cima: quando o pai se recoloca com renda melhor ou quando as despesas do filho aumentam (ex.: escola, tratamento).
  • Revisão para baixo: quando há queda brusca e comprovada da capacidade de pagamento (ex.: desemprego prolongado, doença que impede trabalhar).
  • Exoneração: quando cessa a obrigação (ex.: maioridade + autonomia econômica), sempre avaliando circunstâncias concretas.

Cláusulas inteligentes

Cláusulas inteligentes em acordos podem evitar brigas: prever que, ao apresentar holerite de novo emprego, a pensão passa automaticamente a "x% do líquido"; ou que, na ausência de renda formal, mantém-se "y% do salário mínimo", com reavaliação semestral.

INADIMPLÊNCIA: COMO COBRAR SEM AUMENTAR O CONFLITO

Primeiro: comunicação direta

Se o pagamento atrasa, tente primeiro resolver por comunicação direta: mensagem objetiva, registro das datas, abertura para parcelamento do atraso. Não resolveu? O próximo passo é a execução judicial, que pode levar a desconto direto em folha, penhora de valores e, em cenários mais graves, medidas mais duras previstas em lei.

A execução não precisa ser hostil; muitas vezes, ela simplesmente organiza o pagamento e protege o melhor interesse da criança.

PERGUNTAS FREQUENTES (FAQ)

O pai desempregado pode pagar zero?

Em regra, não. A obrigação permanece; o valor é ajustado para algo que caiba no orçamento atual, com previsão de revisão quando houver renda.

Qual percentual é comum para 1 filho?

Com emprego formal, muitos casos usam cerca de 15% a 20% da renda líquida. No desemprego, tende-se a fixar um valor fixo vinculado a referência como o salário mínimo, de forma provisória.

Posso pedir revisão se a situação mudar?

Sim. Mudanças relevantes (novo emprego, aumento de despesas do filho) justificam revisão para ajustar o valor.

Como provar que o valor pedido é justo?

Apresente orçamento detalhado do filho com comprovantes (moradia, alimentação, escola, saúde, transporte) e, se possível, histórico de gastos.

E se o pai fizer bicos?

Ganhos informais contam. Você pode propor um valor compatível e pedir revisão periódica enquanto não houver holerite.

O que acontece se ele não pagar?

Você pode executar judicialmente: desconto em folha quando houver emprego, penhora de valores e outras medidas cabíveis.

É melhor acordo ou ação?

O acordo é mais rápido se houver diálogo. Sem consenso, a ação de alimentos garante um valor provisório e a decisão final após análise das provas.

CONCLUSÃO

Definir o valor de pensão para 1 filho pai desempregado não é matemática pura — é ponderação concreta entre o que a criança precisa e o que o responsável pode pagar hoje. O objetivo não é punir, mas garantir dignidade ao menor enquanto o adulto se reorganiza.

Use números reais, proponha um valor equilibrado e inclua revisões programadas no acordo. Se não houver consenso, procure a via judicial com um dossiê simples e honesto: orçamento do filho, provas do desemprego ou da renda informal e uma proposta viável.

Assim, você transforma um conflito potencial em um plano prático, ajustável e focado no melhor interesse da criança.

PRECISA DE ORIENTAÇÃO JURÍDICA SOBRE PENSÃO ALIMENTÍCIA?

*Este conteúdo é informativo e não substitui avaliação jurídica individual.

Karoline Francisco Advogada